domingo, 16 de março de 2014

Por quê lutamos pela escola pública?



Toda vez que penso em compartilhar alguma reivindicação em relação à escola pública fico com receio da reclamação ser mal interpretada. Eu acredito na escola pública. Indo mais além, eu acredito que na escola pública podemos alcançar uma qualidade de ensino que jamais seria vista na escola privada. Se pensarmos que qualidade de ensino não é o mesmo que competitividade, produtividade ou lucro, é na escola pública q esse objetivo vai ser alcançado. Mas aí fico com medo de que pessoas vejam minha reclamação e
confirmem aquela lenda de que a escola pública não ensina, é ruim, é pior q a escola particular. Isso é mentira! A escola particular pode, em alguns casos, ter melhor estrutura. Mas o motivo de se ver um número maior de reclamações em relação à escola pública é porque lá nós podemos reclamar. Não estamos silenciadxs por um regime de trabalho que te coloca na rua se você discordar. Claro q sempre tentam, mas felizmente temos mais estabilidade do q xs companheirxs das escolas privadas. Estxs, em grande parte dos casos, recebem salários insignificantes, apenas desenvolvem ideias dos donos, tem um enorme volume de trabalho e ainda podem ser mandadxs embora se houver qualquer problema que coloque o nome da escola em risco. 

Logo, se eu reclamo da escola pública é porque posso, e acredito q ali é o local onde devemos lutar por mudanças, pois ela é de todxs nós. Não me interessa lutar por melhorias na escola particular. Não me interessa lutar pra engordar o bolso do patrão, nem pra valorizar a educação bancária ali desenvolvida, pautada em relações de lucro. Pelo contrário, minha luta pela educação pública engloba o fim da educação
privada! Que a educação pública atenda a todas as pessoas, pois ela é um direito conquistado. Então, se você ignora os problemas da escola pública simplesmente matriculando a criança na escola particular, saiba que vc está ignorando um direito seu, e principalmente está contribuindo para o sucateamento da educação pública. É interesse de todas as pessoas envolvidas nessas relações políticas e econômicas escusas que todo mundo acredite e deseje mais a escola particular, para que a pública deixe de existir e consumir dinheiro do Estado. Inclusive a solução para muitxs é justamente introduzir as estratégias capitalistas das escolas privadas na escola pública! E aí entram as provas externas, a meritocracia, o pagamento de prêmios, a hierarquização do ensino, etc. Como se isso fosse melhorar a qualidade de ensino. Isso somente transforma a escola pública em mera seguidora de metas, tratando xs estudantes como mercadorias e ignorando os processos de formação humana. Essas políticas públicas liberais entram na escola para torcer nossos propósitos: deixa-se de se preocupar com as pessoas para se preocupar com as metas. 

Então, eu reclamo sim da escola pública. Reclamo porque quero que ela melhore. Reclamo porque não estou satisfeito com o descaso das autoridades. Reivindico porque sei que é ali, naquele chão, que podemos reconstruir a história, mudar paradigmas, construir uma nova sociedade igualitária e justa. Minha luta não é para que a escola pública alcance o nível da escola particular, porque o nível desta é pequeno. É o alcance de números de aprovações em vestibulares. E se o ensino hoje só faz sentido para aprovar estudantes em provas injustas, descontextualizadas, liberais e excludentes, então quero mudar essa situação. Não sou professor para aprovar ninguém, muito menos para legitimar esse sistema meritocrático falacioso. Sou professor porque acredito que a escola é muito mais do que um depósito de conteúdos, mas sim um local de produção de conhecimento e construção de novas perspectivas sociais. Até que ponto não nos iludimos quando defendemos que a escola particular é melhor do que a pública? O que usamos para basear essa afirmação? Número de aprovações em vestibulares. Então estamos aceitando que esse é o objetivo da escola: a memorização de conteúdos para "passar na prova". Não é só a escola que precisa de melhorias, mas também nossas perspectivas do que é educação.


A escola privada atende aos interesses econômicos, e estes cotidianamente nos exploram e distorcem nossos próprios interesses. A escola pública pertence a nós, por isso devemos lutar para melhora-la, e se hoje ela está precarizada em muitos aspectos, é porque não estamos cuidando muito bem do que é nosso.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Sujeito e gramática: quem constrói quem?


Texto: A Língua Portuguesa nos Currículos de Final de Século. MARINHO, M.

                A autora pretende através do artigo, refletir sobre a composição dos currículo de língua portuguesa nas duas últimas décadas do século XX.
                Resgatando Magda Soares, MARINHO faz uma retrospectiva da disciplina de língua portuguesa, apontando que a partir dos anos 50, com a reivindicação da abertura da escola para as classes trabalhadores, o recrutamento de professores de Português passa a ser menos seletivo, resultando disso um professor cada vez mais dependente do material didático.
                Ainda em um resgate sobre a história, a autora mostra, historicamente, a dualidade entre a expressão oral e a expressão escrita, de acordo com cada momento histórico e com as demandas sociais.
                Dessa forma, a autora aponta essa dicotomia presente nos currículos, levantando o debate sobre o ensino da gramática, e a importância dada a esta, assim como a demanda social instalada sobre a produção textual, a compreensão da língua em suas diversas formas de expressão.
                Este é um debate que a nós, educadores do primeiro segmento do ensino fundamental, está sempre presente. É durante o tempo escolar em que atuamos que se espera que o sujeito seja alfabetizado. E, como já vimos em diversos outros materiais desta disciplina, a concepção de sujeito alfabetizado também sofreu mudanças ao longo do tempo, sendo hoje o letramento a forma em que o trabalho dos sistemas educacionais se orienta. Assim, nos vemos em uma eterna dúvida: quais conteúdos são indispensáveis? Existe uma maneira de trabalhar questões gramaticais sem cair no “decoreba”, e relacionando com o processo de aquisição da leitura e escrita?
                A primeira vista, não faz muito sentido ensinar regras gramaticais a sujeitos que ainda não sabem fazer uso da língua. Porém, a realidade nas escolas públicas brasileiras é que, em geral, nem mesmo os alunos que encontram-se na segunda etapa do ensino fundamental (que teoricamente já estão alfabetizados, ou já passaram pela fase da alfabetização) tem domínio da língua a ponto de produzir textos. Assim, faria sentido ensinar regras gramaticais a esses sujeitos?
                Com relação a isso, tivemos a oportunidade de refletir sobre o que é a gramática. É preciso ter o cuidado de não cair em oposições extremistas, como se uma opção automaticamente excluísse a outra. O que quero dizer é que ao ter a concepção do letramento, sem uma análise profunda, acabamos por recusar toda e qualquer contribuição da gramática. Demonizamos a gramática, como se esta fosse, por si só, instrumento com vontade própria e poder de fazer com que outras preocupações não estejam presentem em nossa prática.
                Acredito ser fundamental entender que a gramática é um instrumento, e que pode ser utilizado de diversas maneiras. Infelizmente ainda vemos um ensino da língua portuguesa focado simplesmente nas regras gramaticais, descoladas da vivência. Eu mesmo passei por isso no tempo de escola, onde decorava as classificações para simplesmente acertar na prova. Porém a gramática só tem essa forma de ser trabalhada? Quando utilizamos da lógica já conhecida do sujeito na construção de frases, e mostramos que a concordância entre o sujeito e o verbo em relação a quantidade (plural ou singular) torna a frase mais harmônica, não estamos ensinando gramática?
           Pessoalmente, não consigo ver as duas concepções em lados opostos. É preciso recusar o tecnicismo que  está impregnado no ensino da gramática, com sua regras, fórmulas, etc. Lembro-me de uma palestra que assisti no ano passado, durante a II Semana Paulo Freire na UERJ Maracanã. O palestrante era o professor Marcos Bagno. Em um momento ele disse algo, que coloco abaixo com minhas palavras, pois obviamente não teria como lembrar que palavras ele disse. Mas a ênfase era essa:

A gramática é o único campo de estudo que pretende que o mundo haja de acordo com suas regras. Um biólogo, ao estudar determinado tipo de ave, procura saber de que maneira esta espécie se comporta, quais são seus hábitos, etc. Se em algum momento da existência, esse tipo de ave modifica sua forma de agir, ou algum hábito que lhe era característico, o biólogo não diz que o pássaro está agindo de forma errada. Ele não toma seu estudo anterior como a verdade, e decide que o pássaro é que está errado. Ele volta para o estudo, e analisa as causas, as mudanças em si, e reformula seu estudo anterior. Na gramática, as pessoas mudaram suas formas de falar, de escrever, novas formas surgem a todo momento, porém continuamos a olhar os antigos estudos de gramática e dizer que as pessoas estão agindo errado.”

             Enfim, a gramática é que constrói o sujeito, ou o sujeito cria, modifica, altera, reflete, pensa e utiliza a gramática? 


Entrevista com Marcos Bagno




Slide: análise do livro "Porta Aberta" 2º ano e Sequência Didática

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Construindo práticas transdisciplinares

Reflexão sobre o texto: "A abordagem das diferentes áreas do conhecimento nos primeiros anos do Ensino Fundamental" CORSINO, P.

Você pode ler o texto clicando aqui!

 É curioso pensar em como nossa vivência enquanto alunos exerce grande influência em nossa prática docente. Infelizmente acabamos por reproduzir algumas formas de ação naturalizadas em nossa concepção educacional. Por exemplo: raramente questionamos as formas de organização disciplinar que utilizamos. Português, matemática, história, geografia, ciências. A divisão disciplinar acaba por não criar ligações entre as áreas de conhecimento, esquecendo que todas elas partem de saberes que se relacionam. Somado a isso, temos a ideia de "o que é" e "como" aprender. Ainda reproduzimos a ideia de que para aprender o aluno necessita estar sentado, quieto, e só estamos ensinando se algum conteúdo está sendo exposto com aquela intenção. Resumindo: para aprender, a brincadeira, a diversão e a espontaneidade devem estar de fora. Tudo deve ser milimetricamente planejado, e seguido a risca. Devemos ter o "controle" da turma.

O texto me trouxe algumas dessas reflexões, que já povoam minha mente há algum tempo, e trouxe alguns novos elementos. Ao mesmo tempo, me remeteu a outras leituras que fiz. Citando uma referência que me veio a mente, está o livro "O sentido da escola", uma organização das professoras Regina Garcia Leite e Nilda Alves. Comprei esse livro em um sebo (aliás, é sempre bom caçar nas feirinhas e sebos), e já li algumas vezes. Assim como o texto ao qual estou me referindo nessa reflexão, neste livro também temos exemplos de falas de professores, relatando experiências onde essa concepção de educação foi confrontada com novas possibilidades de ensino-aprendizagem. E então nos colocamos a pensar: quantas vezes deixamos de ouvir os alunos para seguir o planejamento que havíamos feito e que temos que cumprir? Quantas vezes não nos permitimos tentar de outra maneira?

Digo isso porque acho que os casos relatados não são exceções. Talvez sejam exceções as posturas das professoras, que estiveram atentas aos questionamentos trazidos pel@s alun@s. Mas sem dúvida, a todo momento em sala de aula, as crianças questionam, falam sobre assuntos variados e levam temas que não estão em nosso planejamento. Impossível criar um planejamento que contemple completamente o que a criança anseia. Acredito que o planejamento é importante, na medida em que traz uma organização necessária, e possibilita sempre criar novos métodos. Inclusive o planejamento, na minha opinião, deve vir acompanhado de observações e anotações. Ou seja, é preciso o antes e o depois. É importante planejar, ou seja, presumir o que e como irá ser trabalhado, e também refletir depois, se realmente ocorreu como previsto, e se não ocorreu como foi, o que aconteceu, que novos desdobramentos surgiram. Imagine que exercício interessante seria poder comparar o que esperamos de uma aula com o que realmente aconteceu?

Anotei alguns pontos que julguei fundamentais para o aprofundamento do texto:

- Relação entre curiosidade e aprendizagem sendo necessário receptividade em sala de aula;
- Conceitos espontâneos e científicos;
- Conhecimento como construção;
- A dificuldade da escola em lidar com a pluralidade e com as diferenças;
- Curriculo e planejamento relacionados com atravessamentos sociais e históricos.

Com a discussão em sala, também me chamou a atenção a questão da função do professor na escola. Lembrei sobre alguns textos que estudamos na disciplina "Escola como Espaço Político e Pedagógico IV", onde refletimos sobre o professor e as dificuldades de ser agente ativo em toda a escola, abrangendo todas as instâncias de organização escolar e pedagógica. Vou procurar os textos que tratavam disso e postarei aqui em forma de link.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Alfabetização e letramento: reflexões

Reflexão sobre o texto:
MONTEIRO,  Alfabetização e letramento. Salto para o futuro, Anos iniciais do ensino fundamental, Brasília: MEC,  ano XIX, pp. 10-28, setembro/2009.  

 Clique aqui para acessar o texto


Ao ler o texto percebemos a necessidade urgente de se compreender melhor o processo de desenvolvimento da leitura e escrita nos alunos do ensino fundamental, e para isso é fundamental refletirmos sobre os conceitos de alfabetização e letramento. 

Tendo em vista as mudanças sociais, aprender a ler e escrever deixou de significar apenas a simples reprodução de letras e sílabas, para se transformar em algo que possa levar significado à vida do sujeito. Apropriar-se da escrita para que através dessa ferramenta o sujeito possa decodificar o mundo a sua volta. Dessa forma, a união entre a alfabetização, sendo o domínio dos códigos e habilidades para a leitura e escrita, e o letramento, compreendido como a utilização dos signos em uma leitura de mundo, é o caminho para a escola atual.


O texto nos auxilia com algumas sugestões, que nos levam a construir novas práticas em sala de aula. Porém, é preciso destacar que não existem fórmulas. O processo de letramento é complexo, e único para cada sujeito. É preciso que a professora (utilizo, assim como no texto, o feminino em vez da generalização masculina, uma vez que a maioria das profissionais são mulheres) possa refletir sua prática e construi-la cotidianamente.


Acho interessante transpassar o texto e exemplificar com minha prática atual. Como professor em início de carreira, trabalhando com uma turma de alfabetização, procurei algumas fórmulas, maneiras prontas para trabalhar em sala, e não encontrei. Corrigindo, as que encontrei não me satisfaziam, por serem mecânicas e uniformizadoras. Então, percebi que o máximo que irei encontrar na teoria são materiais para reflexão, e que a construção de minha proposta pedagógica irá se dar por meio da minha interação com os alunos e com a equipe educadora/pedagógica da escola. 

Minhas amigas (Bruna, Camila e Pamela) e eu discutimos o texto, e a partir dele criamos um slide para melhor apresentá-lo. Veja o slide clicando aqui

Achei interessante este vídeo com uma poesia sobre letramento, feito por uma aluna. 


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Oi, meu nome é...

O tio mandou que a primeira postagem do blog seja falando sobre mim, sobre minha relação com a leitura na infância e tal e coisa. 

Bem, meu nome é Daniel, tenho 25 anos e eu sou estudante de pedagogia da FEBF/UERJ. Engraçado que nossa apresentação sempre costuma destacar aquilo que mais nos orgulhamos ou que mais gostamos em nossa vida. Hoje eu me apresento como universitário, porque tenho orgulho do meu curso, mas já me apresentei de diferentes maneiras. Também sou professor na rede municipal de Nova Iguaçu e bolsista de Iniciação Científica. Também me orgulho dessas coisas, mas considero-as decorrências da minha formação, então minha principal apresentação continua sendo "estudante de pedagogia". 

A leitura sempre foi um ponto forte na minha vida. E aí que entra o nome do blog. Fiz com esse nome por dois motivos:
1. O blog é para uma disciplina na faculdade, a pedido do professor. Então fica a brincadeira.
2. Minha relação com a leitura começou na escola básica, com aqueles livros que vinham junto na lista de material escolar, e que tínhamos que ler durante o ano para responder aquelas perguntas que vem num papel solto dentro do livro. Eram os tios e tias que mandavam a gente ler. Muitos ficaram na obrigação, mas eu me rendi e fiquei apaixonado por livros.

Então através dessa obrigação de ler os livros, fui me encantando e lendo mais e mais. Até finalizar o primeiro ciclo do fundamental (que nem tinha esse nome, era 1º grau mesmo) a coisa foi mais difícil. A escola que estudava era pequena, não tinha biblioteca, e minha família também não tinha recurso ($$$) para comprar livros. No máximo aqueles que "o tio mandou". A partir da 5ª série (atual 6º ano) mudei para uma escola maior, onde tinha biblioteca com uma variedade bem interessante de livros. E era lá que eu me enfurnava todos os dias na hora do recreio e depois da aula. Lia muito e tudo, principalmente livros para adolescentes, da série vaga-lume e outros. Um puxava o outro. Lembro quando descobri a série dos Karas, de Pedro Bandeira: li todos em uma semana. 

Li nessa época um ou outro clássico, como Dom Casmurro, porque os tios mandavam. Diziam que a gente tinha que ler coisa mais séria, já que estávamos quase no 2º grau. Confesso que achei bem chato o tal do Dom Casmurro, mas resolvi ler outra coisa do mesmo autor pra ter certeza que era chato, e li Memórias Póstumas de Bráz Cubas, e achei melhor. Ainda assim, meu negócio eram os livros paradidáticos. 

Antes que eu transforme isso aqui em um capítulo de uma auto biografia, vou parar porque acho que já consegui ilustrar como foi minha relação com a leitura na infância, e foi isso que "o tio mandou".

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