Texto: A Língua Portuguesa nos
Currículos de Final de Século. MARINHO, M.
A
autora pretende através do artigo, refletir sobre a composição dos currículo de
língua portuguesa nas duas últimas décadas do século XX.
Resgatando
Magda Soares, MARINHO faz uma retrospectiva da disciplina de língua portuguesa,
apontando que a partir dos anos 50, com a reivindicação da abertura da escola
para as classes trabalhadores, o recrutamento de professores de Português passa
a ser menos seletivo, resultando disso um professor cada vez mais dependente do
material didático.
Ainda
em um resgate sobre a história, a autora mostra, historicamente, a dualidade
entre a expressão oral e a expressão escrita, de acordo com cada momento
histórico e com as demandas sociais.
Dessa
forma, a autora aponta essa dicotomia presente nos currículos, levantando o
debate sobre o ensino da gramática, e a importância dada a esta, assim como a
demanda social instalada sobre a produção textual, a compreensão da língua em
suas diversas formas de expressão.
Este
é um debate que a nós, educadores do primeiro segmento do ensino fundamental,
está sempre presente. É durante o tempo escolar em que atuamos que se espera
que o sujeito seja alfabetizado. E, como já vimos em diversos outros materiais
desta disciplina, a concepção de sujeito alfabetizado também sofreu mudanças ao
longo do tempo, sendo hoje o letramento a forma em que o trabalho dos sistemas
educacionais se orienta. Assim, nos vemos em uma eterna dúvida: quais conteúdos
são indispensáveis? Existe uma maneira de trabalhar questões gramaticais sem
cair no “decoreba”, e relacionando com o processo de aquisição da leitura e
escrita?
A
primeira vista, não faz muito sentido ensinar regras gramaticais a sujeitos que
ainda não sabem fazer uso da língua. Porém, a realidade nas escolas públicas
brasileiras é que, em geral, nem mesmo os alunos que encontram-se na segunda
etapa do ensino fundamental (que teoricamente já estão alfabetizados, ou já
passaram pela fase da alfabetização) tem domínio da língua a ponto de produzir
textos. Assim, faria sentido ensinar regras gramaticais a esses sujeitos?
Com
relação a isso, tivemos a oportunidade de refletir sobre o que é a gramática. É
preciso ter o cuidado de não cair em oposições extremistas, como se uma opção
automaticamente excluísse a outra. O que quero dizer é que ao ter a concepção
do letramento, sem uma análise profunda, acabamos por recusar toda e qualquer
contribuição da gramática. Demonizamos a gramática, como se esta fosse, por si
só, instrumento com vontade própria e poder de fazer com que outras
preocupações não estejam presentem em nossa prática.
Acredito
ser fundamental entender que a gramática é um instrumento, e que pode ser utilizado
de diversas maneiras. Infelizmente ainda vemos um ensino da língua portuguesa
focado simplesmente nas regras gramaticais, descoladas da vivência. Eu mesmo
passei por isso no tempo de escola, onde decorava as classificações para
simplesmente acertar na prova. Porém a gramática só tem essa forma de ser
trabalhada? Quando utilizamos da lógica já conhecida do sujeito na construção
de frases, e mostramos que a concordância entre o sujeito e o verbo em relação
a quantidade (plural ou singular) torna a frase mais harmônica, não estamos
ensinando gramática?
Pessoalmente,
não consigo ver as duas concepções em lados opostos. É preciso recusar o
tecnicismo que está impregnado no ensino
da gramática, com sua regras, fórmulas, etc. Lembro-me de uma palestra que
assisti no ano passado, durante a II Semana Paulo Freire na UERJ Maracanã. O
palestrante era o professor Marcos Bagno. Em um momento ele disse algo, que
coloco abaixo com minhas palavras, pois obviamente não teria como lembrar que
palavras ele disse. Mas a ênfase era essa:
“A gramática é o único campo de estudo que pretende que o mundo haja de
acordo com suas regras. Um biólogo, ao estudar determinado tipo de ave, procura
saber de que maneira esta espécie se comporta, quais são seus hábitos, etc. Se em
algum momento da existência, esse tipo de ave modifica sua forma de agir, ou
algum hábito que lhe era característico, o biólogo não diz que o pássaro está
agindo de forma errada. Ele não toma seu estudo anterior como a verdade, e
decide que o pássaro é que está errado. Ele volta para o estudo, e analisa as
causas, as mudanças em si, e reformula seu estudo anterior. Na gramática, as
pessoas mudaram suas formas de falar, de escrever, novas formas surgem a todo
momento, porém continuamos a olhar os antigos estudos de gramática e dizer que
as pessoas estão agindo errado.”
Enfim,
a gramática é que constrói o sujeito, ou o sujeito cria, modifica, altera,
reflete, pensa e utiliza a gramática?
Entrevista com Marcos Bagno
Daniel, vc fez uma excelente reflexão. Seu texto flui, demonstrando cuidado, facilidade e entendimento do que leu... Além disso, consegue fazer uma reflexão direta com sua prática! É o que chamamos de "professor reflexivo". Siga adiante! Você ainda apresenta uma entrevista do Bagno. Sugiro, apenas que faça uma introdução do vídeo, comentando suas relações com o que refletiu...Excelente! Parabéns!
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